Opinião pública em xeque

Por Antonio de Oliveira Lima

O Jornal o Globo publicou, neste domingo(14), matéria na qual aborda as contradições entre o discurso e a prática de pessoas que ocupam importantes cargos públicos no Brasil. São relatados alguns casos bem conhecidos, que ocuparam os noticiários nacionais mais recentes, além personagens que apareceram em manchetes mais antigas. Há, também, relatos de outros casos igualmente graves, porém pouco conhecidos em nível nacional.

A matéria chama a atenção para a naturalização da corrupção. Cito aqui alguns trechos: "Ficou natural um parlamentar admitir que fez um acordo para votar em troca de uma verba liberada"; "o Estado foi se tornando um objeto de negociação"; "a opinião pública passa a ser apenas uma opinião"; "a insistência do governo  é explicada por uma característica rara: um presidente que não precisa ser popular". Leia a matéria aqui.

Tudo isso nos faz lembrar, com tristeza, a frase do Deputado  Sérgio Moraes (PTB/RS), então relator do processo que investigava o Deputado Edmar Moreira (PR/MG), dono de um castelo de vinte e cinco milhões de reais: "estou pouco me lixando para a opinião pública". Leia aqui a matéria de 2009. Recentemente Moraes voltou aos noticiários, por ter sido um dos indicados para o cargo de Ministro do Trabalho. A nomeação não se confirmou. Pesou, ao menos no seu caso, a opinião publica que ele tanto desprezou. Entretanto, para o Presidente da República, a opinião dos parlamentares tem pesado muito mais.

Diante desses fatos, deixo aqui algumas indagações para que possamos refletir sobre elas e buscar uma solução para o problema. Afinal, porque a opinião pública está em xeque, a ponto de um parlamentar declarar que está pouco "se lixando" para ela, e de o chefe do poder executivo federal prescindir dela para governar? Porque os parlamentares aprovam as reformas propostas pelo governo, contrárias aos interesses do povo que o elegeu? Porque não estamos conseguindo fazer com que nossa opinião sensibilize nossos representantes? 

Na verdade, não são apenas os políticos que estão desprezando a opinião pública. Também o povo tem desprezado sua própria opinião. Esperamos que os políticos nos valorizem quando nós mesmos não nos valorizamos. Reclamamos quando eles vendem os votos para aprovar as reformas, mas muitos de nós vendemos ou trocamos nossos votos para elegê-los. Não bastasse isso, depois das eleições, eles nos esquecem e nós os esquecemos. Afinal, quantos de nós lembramos  hoje o nome do deputado, estadual ou federal, no qual votamos nas últimas eleições? Até mesmo quem pratica o voto consciente - quem não vende nem troca o seu voto e busca eleger os melhores - esquece de acompanhar o mandato do parlamentar que ajudou a eleger. 

Muitos políticos só visitam suas bases de quatro em quatro anos, quando precisam de voto.  Mas por que nós também não os visitamos? Como dizem os árabes, "se a montanha não vai a Maomé, Maomé vai à montanha". E essa montanha é chamada de casa do povo... Então, está mais do que na hora de fazermos uma limpeza em nossa casa e passarmos a visitá-la com frequência, pois todos nós sabemos o que a acontece quando abandamos nossas casas: começam a aparecer ratos e baratas, dentre outros insetos.   

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